Estamos de partida para Gelsenkirchen, pela 2ª vez. O ambiente na Selecção está quente, motivado pela ferocidade da imprensa inglesa, sempre disposta a criar polémicas onde não existem, nem que para isso seja precisar inventar entrevistas com o Pauleta, como aconteceu. As conferências de imprensa na tenda de Marienfeld tem sido mais concorridas do que nunca, assim como os treinos (onde 3 esforçados repórteres trabalham deitados). Esta postura da imprensa inglesa não é mais do que uma fuga para a frente, um modo agressivo de ocultar os seus receios de que a tragédia do Euro2004 se volte a repetir. Assim esperamos. De qualquer modo, o discurso lusitano é de contenção e respeito pois não convém deitar foguetes antes da festa.
Hoje, dia 28, completa-se um mês desde que saí de Portugal. São 30 dias de trabalho consecutivos a acompanhar a selecção nacional. Nos primeiros dias a cobertura centrou-se num dos adversários já eliminados - a Angola, selecção que acompanhei com o meu colega Eugénio e da qual tantas boas memórias guardaremos...
Tal como já vem sendo hábito nestes jogos, a chaparia lá teve que acordar cedo para reservar lugar. À medida que a competição vai avançando, o número de fotógrafos vai aumentando (eramos 12 tugas contra 23 holandeses) e as horas de antecedência com que a malta aparece também. Tudo serviu para marcar lugar, inclusivé o saco pestilento da roupa suja do Simões (à esquerda em cima, Luís Neves na fila para o Grupo I algumas horas antes). As emoções foram contrastantes, mas o ambiente foi sempre de festa, chegando inclusivé a sentir-se apoio a Portugal dos alemães presentes no Frankstadium.
Nem só de bola vive o homem. Se nos confinássemos aos treinos e conferências de imprensa, ao fim de alguns dias davamos em loucos. Nesse sentido, tentámos, sempre que possível, encontrar histórias que valham a pena ser contadas. Esta é mais uma delas. Numa altura em que só se fala de laranjas (devido ao próximo jogo com a Holanda) resolvemos apostar nos morangos. Este fruto vermelho faz parte da dieta da selecção e é um dos mais populares nesta região. Nos arredores de Marienfeld existem inúmeros campos, onde trabalhadoras polacas ganham 6 euros por hora para colher morangos. É uma interessante história que podem ler hoje no Record e que nos deu a valiosa oportunidade para conhecer uma realidade diferente, longe do campo da bola e do tédio das conferências. (Em baixo, à esquerda, o meu colega Filipe colabora na desmontagem do "cenário")
Num jogo que, como referi, pouca emoção teve dentro das quatro linhas, a fiesta foi sempre nas bancadas, com os mexicanos em esmagadora maioria. Enviadas as imagens (incluindo estas que aqui vos mostro) há que fazer um briefing e organizar a semana que se segue: marcar hotéis, distribuir pessoas e tarefas, sempre dependentes dos resultados dos jogos e respectivos adversários. Fizemos mais 150Km de regresso a Belefield, com uma paragem no Burger King para matar a fome. Uma viagem que não passa dum pequeno passeio comparado com os 600 kms que nos separam de Nuremberga, onde jogaremos Domingo com a Holanda. E como se isso não bastasse, ficaremos num hotel a 150 km do estádio, algures nas montanhas perto da fronteira com a Républica Checa. Fazendo as contas por alto, em dois dias de treinos, conferências e jogo dos oitavos de final vamos fazer cerca de 1800 kms. E depois ainda tenho que ouvir barbaridades do tipo "Então essas férias, estão a correr bem?" Ora fodasse!
Haja paciência... estas auto-estradas alemãs tiram um gajo do sério. Para a próxima ponham os estádios mais próximos uns dos outros, ou então reduzam o número de camiões. Dasse!
Mais um jogo, mais uma vitória, mais um dia extenuante. A jornada começou cedo, para conseguir reservar cadeira para fotografar. Tradicionalmente, os fotógrafos do grupo I (no qual os tugas estão inseridos) tem que se apresentar 2 horas antes do encontro para marcar o seu sítio, mas a malta, já sabendo da confusão, está lá muito mais cedo. Ou seja, o jogo foi às 3 da tarde, mas às 10H30 da manhã já lá estavamos. Depois disso, há que comer algo a correr (já estou farto destes menus de estádio - são sempre as mesmas salsichas e hamburgers manhosos) e vamos ao trabalho. No que toca a imagens de bancada, as selecções de Portugal e do Irão não estarão certamente no top de adeptos mais "coloridos", mas sempre se vai encontrando uma ou outra figura interessante. E já não há pachorra para os cromos com os garrafões na cabeça. A vitória foi indiscutível e a exibição bem melhor do que com os "Palancas". Enviado o serviço, toca a fazer mais 300 e tal kms de regresso a Belefield. Na viagem tento-me mentalizar que mais 15 dias aqui ninguém me tira. Apesar das saudades de casa e do cansaço acumulado de quase um mês de trabalho consecutivo, gostavamos todos de ficar até ao fim. Com frequência, o pessoal queixa-se que "já tou farto disto e quero é ir-me embora" mas de certeza que ao fim de dois dias de trabalho nas respectivas redacções, também diriam o mesmo.
Desculpem, meus amigos, mas não é possível actualizar isto com a frequência que gostaria. São 6 da tarde, acabei de enviar as fotos e estou aqui no Media Center quase a dormir em cima do teclado. Tem havido muito trabalho, algumas longas viagens (ainda ontem fizemos mais de 300km para vir para Frankfurt) e pouco tempo disponível, inclusivé para dormir...
Somos uma vergonha. Sim... nós os homens somos uma vergonha. É triste dizê-lo, mas é verdade. É certo que muitos de nós estamos há 3 semanas fora de casa, com as carências acumuladas que essa situação acarreta. A malta está à míngua com a testosterona no red-line. Somos uns barris de pólvora hormonal que disparam ao mínimo rabo de saia. Como se este estado não fosse já suficientemente lastimável e decadente, quem haveria de aparecer para piorar a situação?...Inês Sainz. Sim, a famosa jornalista mexicana que causou furor no estágio em Évora, voltou a dar um ar da sua graça na tenda de imprensa em Marienfeld e no treino da tarde. A conferência de imprensa passou completamente ao lado, perante a presença de tal figura. Era vê-los a desviar as objectivas, a fazer fotos com o telemóvel e a erguer os microfones, babados com esta visão. Dentro de uma prespectiva estritamente profissional, achei por bem registar também esse momento, procurando abordar o evento de vários angulos de modo a poder partilhá-lo com vocês.
Finalmente, o nosso Mundial começou. A exibição foi sofrível, mas deixo os comentários de rescaldo para os paineleiros da especialidade. Foi um dia longo e extenuante que começou cedo e acabou muito tarde (por dificuldades de envio, fomos dos últimos a abandonar o Media Center).
A manhã começou cedo em Celle, onde engolimos o pequeno-almoço para de seguida nos fazermos à estrada em direcção a Colónia. 330 Km que estavam a correr muito bem até apanharmos um acidente na autoban que nos obrigou a (des)esperar cerca de uma hora para fazer 8 km. Encontramos o resto do pessoal numa estação de serviço, onde paramos para um café. Almoçamos no hotel em Colónia e rumamos ao estádio para conferências e treinos de Portugal e Angola. O espaço parece ter boas condições, se bem que o Media Center para a malta trabalhar (uma mega-tenda que mais parece a Enterprise) estava com uma temperatura desaconselhável para o calçãozito que eu levava vestido. Um problema no ar condicionado, alegaram eles, enquanto eu batia o dente. Enviado o serviço, tive que percorrer cerca de 1km a pé com o material às costas porque o acesso ao parque onde estava o carro fazia-se agora por outro local. Como resultado, mais um segurança alemão foi insultado em português. Eles já se vão habituando...
Mais um dia relativamente sereno na cobertura da aventura angolana. A conferência de imprensa foi hoje algo diferente, não só pelos deliciosos canapés com que fomos recebidos, mas também pelos brindes da Puma(saco para computador, relógio, perfume, guias audio das cidades do Mundial e muito mais) com que fomos presenteados no final da sessão de perguntas aos jogadores. É habitual nestes grandes eventos desportivos a oferta de brindes aos jornalistas. Estranhamente, no momento em que levantamos as credenciais para o Mundial não recebemos absolutamente nada, o que contrasta com o autêntico cabaz que era oferecido na altura do Euro2004. Uns forretas, estes alemães.
Em primeiro lugar, aqui vai a foto não publicada da história que contei ontem, o empregado brasileiro, amigo de infância de Manduca, actual jogador do benfica . Em míudos, jogavam juntos à bola mas o destino traçou-lhes rotas bem diferentes. Actualmente, este rapaz trabalha 7 meses a servir gelados em Celle e goza os restantes no Brasil. Há vidas piores...
Mais dois treinos, um deles fechado, mas tivemos que aguardar pelo final (uma seca de mais de 3 horas) para fazer uma foto específica. Almoçamos no centro (conseguimos finalmente encontrar um local que serve peixe) e ficamos a conhecer um empregado de mesa brasileiro que foi amigo de infância dum actual jogador do benfica(história para ler no Record).
Enfim, um dia normal. Apenas um treino matinal, com oportunidade para fazer bastantes fotos individuais dos jogadores, o que será útil em termos de arquivo para os dias seguintes. No final, abertura de "zona mista", uma área de passagem de jogadores onde é possível recolher declarações. Após o treino almoçamos no centro da cidade numa esplanada mas o final da refeição acabaria regado por um aguaceiro que nos obrigou a voltar rapidamente ao hotel. Estive a editar cerca de 1,5Gb de imagens se bem que com a habitual desorganização angolana, não consigo identificar todos os jogadores. De facto, não existe uma listagem oficial, uma revista actualizada com as caras e números dos jogadores da selecção. Muitas fotos acabem por ficar "na gaveta" porque não se conseguir identificar o jogador. Amanhã tentarei, junto dos nossos colegas angolanos, concluir a identificação de todas as fotos.
7 horas de sono, finalmente! Já me sinto outro. O dia começou tranquilo com uma deslocação a Celle, onde estaremos hospedados nos próximos dias e assim mais próximos do quartel-general da selecção angolana. Desta vez vamos ficar 5 noites no mesmo hotel, o que é inédito - nos anteriores (5 no total) nunca dormimos mais que 2 noites no mesmo sítio. Mais tarde tentarei mostrar-vos a beleza desta pequena localidade. Se houver tempo, claro...
Podia chamar-lhe o dia mais longo...o que não seria mentira no que toca a kms percorridos. (Fizemos as contas por alto e nestes dias já fizemos mais de 2000Kms - uma média de 360 km por dia).
Moídos pelo cansaço, abandonamos o hotel na hora limite do check-out: 12H00. O City Hotel em Dortmund é pequeno, mas simpático. E tem a mais original tampa de sanita em que me sentei nos últimos dias. Antes de sair, aguardamos ainda pelos faxs enviados pela redacção com as páginas publicadas sobre Angola - nossas e dos restantes jornais desportivos. É um modo de termos algum feedback sobre como tem saído o nosso trabalho e espreitar o que fez a concorrência.
A saga continua. Conseguimos descansar um pouco mais pela manhã, finalmente. Aliás, o dia nem começou mal, mas acabou pior. Fizemos-nos à estrada em direcção a Sittard, na Holanda onde a selecção angolana tinha agendado o treino de preparação para o jogo com a Turquia. Como o nosso Tom Tom só tem cobertura GPS no território alemão, o resto da navegação teve que ser feita à base de intuição. A distância total são cerca de 200Km mas se pensam que "ah e tal, nas auto-estradas alemãs, sem limite de velocidade, aquilo é sempre a abrir" desenganem-se. De facto, nestes 200 km, a cada 40-50 km é preciso sair da auto-estrada, meter por estradas nacionais saturadas de camiões e obras, voltar a entrar na autoban e ter muita paciência - dificilmente se consegue andar a mais de 80-90 km/h durante o dia. O trânsito é medonho.