Aventuras dum Repórter Fotográfico no Campeonato do Mundo da Alemanha.


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Inglaterra, Bielefeld e os Alemães

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Estamos de partida para Gelsenkirchen, pela 2ª vez. O ambiente na Selecção está quente, motivado pela ferocidade da imprensa inglesa, sempre disposta a criar polémicas onde não existem, nem que para isso seja precisar inventar entrevistas com o Pauleta, como aconteceu. As conferências de imprensa na tenda de Marienfeld tem sido mais concorridas do que nunca, assim como os treinos (onde 3 esforçados repórteres trabalham deitados). Esta postura da imprensa inglesa não é mais do que uma fuga para a frente, um modo agressivo de ocultar os seus receios de que a tragédia do Euro2004 se volte a repetir. Assim esperamos. De qualquer modo, o discurso lusitano é de contenção e respeito pois não convém deitar foguetes antes da festa.

Em Bielefeld, terra que já adoptamos como nossa, tive hoje oportunidade de passear e conhecer um pouco melhor as suas ruas e comércio. É uma cidade pequena, organizada, limpa e viva, com diversas zonas pedonais com agradáveis esplanadas para relaxar ao fim do dia, inúmeras livrarias de rua e uns coloridos bonecos que adornam a entradas de diversos estabelecimentos comerciais. Os preços são para todos os gostos e tranquilidade é a palavra de ordem.

Poderá ser triste dizê-lo deste modo, mas a Alemanha seria um local fantástico se não tivesse alemães. Tem tudo para isso: as instituições funcionam, há qualidade de vida, os ordenados são acima da média, existe segurança, prosperidade, emprego, tempo livre e zonas verdes (Leiam este crónica de dia 23 para ficarem com uma ideia), mas não há pachorra para os alemães! Tudo que fuja do protocolo, do regulamento, é o suficiente para os confundir. Os empregados de mesa, por exemplo,são incapazes de tomar nota de dois pedidos de cada vez, é preciso esperar uma eternidade para pedir mais uma cerveja, a conta ou a factura. A palavra "desenrrascar" não vem no dicionário alemão: se não estava previsto, não se faz. Ponto final. São incapazes de contornar um imprevisto ou dar resposta a uma situação que não estava contemplada. Nas ruas, quando o semáforo está vermelho para os peões, mesmo sem haver um único carro a circular num raio de 10 kms, ninguém se atreve a transpor a estrada - todos aguardam o sinal verde - excepto os tugas que por aqui andam - e que são automaticamente fulminados com o olhar de censura por parte dos habitantes locais. Enfim... é preciso ter muita paciência para viver não na Alemanha, mas com os alemães e, ao fim de 30 dias, esta já começa a escassear. Olha aí mais um cerveja, faxabore!!!

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30 dias de Mundial

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Hoje, dia 28, completa-se um mês desde que saí de Portugal. São 30 dias de trabalho consecutivos a acompanhar a selecção nacional. Nos primeiros dias a cobertura centrou-se num dos adversários já eliminados - a Angola, selecção que acompanhei com o meu colega Eugénio e da qual tantas boas memórias guardaremos...

Ao fim de todos estes dias, o cansaço é indisfarçável. Feitas as contas por alto, terão sido mais de 10.000kms percorridos de carro e outros tantos de avião. Nápoles, Salerno, Dortmund, Sittard, Utrech, Celle, De Burg, Colónia, Hanoover, Frankfurt, Gelsenkirchen, Belefield, Marienfeld e Nuremberga são algumas das cidades onde estivemos. Dormi em 9 hoteis, num deles apenas 4 horas. Comemos em restaurantes mexicanos, argentinos, espanhóis, chineses, alemães, italianos e macedónios, em bombas de gasolinas, e onde nos dessem de comer. As imagens que aqui vos mostro (clica para ver em tamanho maior) são retalhos soltos deste mês, onde tive o previlégio de trabalhar acompanhado por grandes profissionais que muito estimo e admiro.
Em termos de trabalho, aqui ficam mais alguns dados ilucidativos:
- Total: 6 jogos: 2 de preparação, 4 oficiais.
- 14.524 fotos disparadas (cerca de 40Gb em disco)
- 839 fotos em 31 pastas enviadas para a redacção em Lisboa.

Se por um lado sei que estou a viver um momento histórico do futebol português e quero cá ficar até dia 9 para a final em Berlim, por outro as saudades apertam cada vez mais e a necessidade de descanso também. Este é um último esforço difícil, mas necessário - para os que cá estão e para os que nos aguardam em casa. Coragem, já falta pouco.

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Histórico!

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Tal como já vem sendo hábito nestes jogos, a chaparia lá teve que acordar cedo para reservar lugar. À medida que a competição vai avançando, o número de fotógrafos vai aumentando (eramos 12 tugas contra 23 holandeses) e as horas de antecedência com que a malta aparece também. Tudo serviu para marcar lugar, inclusivé o saco pestilento da roupa suja do Simões (à esquerda em cima, Luís Neves na fila para o Grupo I algumas horas antes). As emoções foram contrastantes, mas o ambiente foi sempre de festa, chegando inclusivé a sentir-se apoio a Portugal dos alemães presentes no Frankstadium.

Enviadas as fotos e textos, optamos por regressar a Belefield - mais 440kms com muito camião na auto-estrada a atrapalhar a viagem. Chegamos às 05H30, dormimos depressa e nada melhor para acordar do que um treino matinal. Enquanto alguns descansam nos sofás da tenda de imprensa, outros dão ao gatilho - Nas imagens, Luís Neves, Paulo Esteves, Nicolas Asfouri e Zé Ribeiro, este último experimentando o novíssimo sistema de envio Wi-Fi com uma pena de pato, prova irrefutável que o tempo que aqui levamos e as poucas horas de sono começam a fazer mossa na sanidade mental da malta. Como o Zé Manel da Bola diz, o pessoal ganha mal mas ri-se muito. Valha-nos isso.

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Toma lá Morangos!

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Nem só de bola vive o homem. Se nos confinássemos aos treinos e conferências de imprensa, ao fim de alguns dias davamos em loucos. Nesse sentido, tentámos, sempre que possível, encontrar histórias que valham a pena ser contadas. Esta é mais uma delas. Numa altura em que só se fala de laranjas (devido ao próximo jogo com a Holanda) resolvemos apostar nos morangos. Este fruto vermelho faz parte da dieta da selecção e é um dos mais populares nesta região. Nos arredores de Marienfeld existem inúmeros campos, onde trabalhadoras polacas ganham 6 euros por hora para colher morangos. É uma interessante história que podem ler hoje no Record e que nos deu a valiosa oportunidade para conhecer uma realidade diferente, longe do campo da bola e do tédio das conferências. (Em baixo, à esquerda, o meu colega Filipe colabora na desmontagem do "cenário")

Entretanto, depois de 400 desesperantes kilómetros já estamos em Nuremberga, mesmo ao lado do local onde Hitler presidiu a famosa reunião do partido nacionalista, evento imortalizado pela famosa cineasta da propaganda nazi, Leni Riefenstahl. Infelizmente, não há tempo para descobrir esta interessante cidade. Estamos aqui para trabalhar e estou com as costas piores que um chapéu dum trolha. Até já....

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Férias?!...

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Num jogo que, como referi, pouca emoção teve dentro das quatro linhas, a fiesta foi sempre nas bancadas, com os mexicanos em esmagadora maioria. Enviadas as imagens (incluindo estas que aqui vos mostro) há que fazer um briefing e organizar a semana que se segue: marcar hotéis, distribuir pessoas e tarefas, sempre dependentes dos resultados dos jogos e respectivos adversários. Fizemos mais 150Km de regresso a Belefield, com uma paragem no Burger King para matar a fome. Uma viagem que não passa dum pequeno passeio comparado com os 600 kms que nos separam de Nuremberga, onde jogaremos Domingo com a Holanda. E como se isso não bastasse, ficaremos num hotel a 150 km do estádio, algures nas montanhas perto da fronteira com a Républica Checa. Fazendo as contas por alto, em dois dias de treinos, conferências e jogo dos oitavos de final vamos fazer cerca de 1800 kms. E depois ainda tenho que ouvir barbaridades do tipo "Então essas férias, estão a correr bem?" Ora fodasse!

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A S(h)aga continua...

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Haja paciência... estas auto-estradas alemãs tiram um gajo do sério. Para a próxima ponham os estádios mais próximos uns dos outros, ou então reduzam o número de camiões. Dasse!

De regresso a Gelsenkirchen, ao saudoso estádio Auf Schalke 04 onde assisti a esse momento épico do futebol português que todo o portista gosta de recordar. É realmente a única coisa que vale a pena lembrar, pois a cidade é um escarro urbanístico e desprovida de qualquer ponto de interesse.

O jogo de hoje é a feijões, sem grande carga emotiva, mas nem por isso a carga laboral é reduzida. Nas imagens podemos ver Filipe Santos com o portátil transformado em bandeja para os já indispensáveis morangos comprados na estrada para Marienfeld, Simões a abocanhar com jeitinho, a super-povoada conferência de Scolari, a chapeirada em acção durante o treino, a refeição-tipo nas vésperas de jogos e algumas vítimas do cansaço que fazem do Media Center o seu local de repouso entre treinos.

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Este espaço pode ser seu

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Aviso à navegação: Este blog não é um "one-man-show". Se tens imagens de colegas em acção aqui no Mundial, envia-as para lvdisk@gmail.com com a respectiva legenda. Sim, aquelas mais ordinárias também ;)

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Oitavos, aí vamos nós

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Mais um jogo, mais uma vitória, mais um dia extenuante. A jornada começou cedo, para conseguir reservar cadeira para fotografar. Tradicionalmente, os fotógrafos do grupo I (no qual os tugas estão inseridos) tem que se apresentar 2 horas antes do encontro para marcar o seu sítio, mas a malta, já sabendo da confusão, está lá muito mais cedo. Ou seja, o jogo foi às 3 da tarde, mas às 10H30 da manhã já lá estavamos. Depois disso, há que comer algo a correr (já estou farto destes menus de estádio - são sempre as mesmas salsichas e hamburgers manhosos) e vamos ao trabalho. No que toca a imagens de bancada, as selecções de Portugal e do Irão não estarão certamente no top de adeptos mais "coloridos", mas sempre se vai encontrando uma ou outra figura interessante. E já não há pachorra para os cromos com os garrafões na cabeça. A vitória foi indiscutível e a exibição bem melhor do que com os "Palancas". Enviado o serviço, toca a fazer mais 300 e tal kms de regresso a Belefield. Na viagem tento-me mentalizar que mais 15 dias aqui ninguém me tira. Apesar das saudades de casa e do cansaço acumulado de quase um mês de trabalho consecutivo, gostavamos todos de ficar até ao fim. Com frequência, o pessoal queixa-se que "já tou farto disto e quero é ir-me embora" mas de certeza que ao fim de dois dias de trabalho nas respectivas redacções, também diriam o mesmo.

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Até onde Irão eles?...

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Desculpem, meus amigos, mas não é possível actualizar isto com a frequência que gostaria. São 6 da tarde, acabei de enviar as fotos e estou aqui no Media Center quase a dormir em cima do teclado. Tem havido muito trabalho, algumas longas viagens (ainda ontem fizemos mais de 300km para vir para Frankfurt) e pouco tempo disponível, inclusivé para dormir...

Como as imagens valem mil palavras, aqui ficam algumas do pessoal a trabalhar num treino aberto ao público, um almoço de joelho de porco (e nada de piadas de mau gosto sobre o Mantorras) num restaurante típico com uma deliciosa cerveja produzida no local, a ida para o treino que antecederá o jogo de amanhã, Ricardo Junior apanhado em posições pouco próprias e ainda alguns tugas que encontramos à beira-rio, em grande festa regada com cerveja, sardinhas e entremeada. Amanhã a bola volta a rolar contra o Irão. Façam as vossas apostas.

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Inês na Tenda

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Somos uma vergonha. Sim... nós os homens somos uma vergonha. É triste dizê-lo, mas é verdade. É certo que muitos de nós estamos há 3 semanas fora de casa, com as carências acumuladas que essa situação acarreta. A malta está à míngua com a testosterona no red-line. Somos uns barris de pólvora hormonal que disparam ao mínimo rabo de saia. Como se este estado não fosse já suficientemente lastimável e decadente, quem haveria de aparecer para piorar a situação?...Inês Sainz. Sim, a famosa jornalista mexicana que causou furor no estágio em Évora, voltou a dar um ar da sua graça na tenda de imprensa em Marienfeld e no treino da tarde. A conferência de imprensa passou completamente ao lado, perante a presença de tal figura. Era vê-los a desviar as objectivas, a fazer fotos com o telemóvel e a erguer os microfones, babados com esta visão. Dentro de uma prespectiva estritamente profissional, achei por bem registar também esse momento, procurando abordar o evento de vários angulos de modo a poder partilhá-lo com vocês.

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Let the games begin!

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Finalmente, o nosso Mundial começou. A exibição foi sofrível, mas deixo os comentários de rescaldo para os paineleiros da especialidade. Foi um dia longo e extenuante que começou cedo e acabou muito tarde (por dificuldades de envio, fomos dos últimos a abandonar o Media Center).
Para que não sabe, isto de fotografar jogos não é chegar ao estádio e começar a dar ao gatilho... Somos identificados, revistados, encaminhados, escoltados, vigiados, controlados em vários pontos de acesso e tudo isto só para chegar ao Media Center. Tivemos que aguardar na fila para reservar os melhores locais disponíveis, embora as agências tivessem já tomado muitos deles. Alguns angolanos quiserem furar a fila, mas a malta meteu-os logo na ordem. Em termos fotográficos o jogo foi fraco e dificultado pela má colocação dos paineis de publicidade, que impossibilita a visibilidade para a zona do 2º poste. Por solidariedade, a maioria retira o para-sol das lentes, mas mesmo assim estamos como sardinhas em lata. Nas imagens podem ver Helder Santos a ser apalpado até aos tornozelos, André Alves na bicha para a reserva de cadeira, a fila para a mesma reserva, a chaparia no momento das fotos de equipa, Simões no Media Center, alguns adeptos e a zona junto a uma das bandeirolas com vários chapeiros tugas em acção.

Hoje abandono o meu colega Eugénio e a selecção angolana e rumo a Belefield onde estarei com Portugal até ao próximo jogo com o Irão. Já estou com saudades da tranquilidade de Celle, do nosso restaurante macedónio e do "angola-way-of-life", mas não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe. Vamos ao trabalho.

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Dia 0

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A manhã começou cedo em Celle, onde engolimos o pequeno-almoço para de seguida nos fazermos à estrada em direcção a Colónia. 330 Km que estavam a correr muito bem até apanharmos um acidente na autoban que nos obrigou a (des)esperar cerca de uma hora para fazer 8 km. Encontramos o resto do pessoal numa estação de serviço, onde paramos para um café. Almoçamos no hotel em Colónia e rumamos ao estádio para conferências e treinos de Portugal e Angola. O espaço parece ter boas condições, se bem que o Media Center para a malta trabalhar (uma mega-tenda que mais parece a Enterprise) estava com uma temperatura desaconselhável para o calçãozito que eu levava vestido. Um problema no ar condicionado, alegaram eles, enquanto eu batia o dente. Enviado o serviço, tive que percorrer cerca de 1km a pé com o material às costas porque o acesso ao parque onde estava o carro fazia-se agora por outro local. Como resultado, mais um segurança alemão foi insultado em português. Eles já se vão habituando...

Jantamos tarde e a más horas no centro de Colónia, onde centenas de bêbados de várias nacionalidades cantavam, cambaleantes, palavras de apoio às suas pátrias. Esta zona está transformada num melting pot alcoólico-futebolístico, onde a malta parece cumprir à regra o slogam da Fifa "a time to make friends". Apesar de bêbados, não vi desacatos, apenas alegria e muita cerveja. Nós, tal como os ginecologistas, trabalhamos onde os outros se divertem. Esperemos que amanhã (hoje) o trabalho seja também motivo de alegria.

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O Último Fôlego

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Mais um dia relativamente sereno na cobertura da aventura angolana. A conferência de imprensa foi hoje algo diferente, não só pelos deliciosos canapés com que fomos recebidos, mas também pelos brindes da Puma(saco para computador, relógio, perfume, guias audio das cidades do Mundial e muito mais) com que fomos presenteados no final da sessão de perguntas aos jogadores. É habitual nestes grandes eventos desportivos a oferta de brindes aos jornalistas. Estranhamente, no momento em que levantamos as credenciais para o Mundial não recebemos absolutamente nada, o que contrasta com o autêntico cabaz que era oferecido na altura do Euro2004. Uns forretas, estes alemães.

Mas a malta está aqui para trabalhar e não para receber prendas. Por isso, e como o treino era só às 21H00, demos um salto ao aeroporto de Hanoover onde centenas de angolanos, alguns ornamentados para a ocasião, chegavam para apoiar a sua selecção. Encontramos ainda um pequeno adepto angolano do FC Porto (estamos em todo o lado, carago!). Feitas e enviadas as fotos, há que regressar para mais um treino com 15 minutos para imagens e zona mista para os escrivas colocarem questões e posarem junto do Mantorras. Jantamos com a (saudável) concorrência e regressamos rapidamente ao hotel. Amanhã bem cedo arrancamos para Colónia, a mais de 300Km, onde o nosso Mundial vai finalmente começar. Nossa Senhora do Caravaggio esteja conosco...

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Em contagem decrescente

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Em primeiro lugar, aqui vai a foto não publicada da história que contei ontem, o empregado brasileiro, amigo de infância de Manduca, actual jogador do benfica . Em míudos, jogavam juntos à bola mas o destino traçou-lhes rotas bem diferentes. Actualmente, este rapaz trabalha 7 meses a servir gelados em Celle e goza os restantes no Brasil. Há vidas piores...

O dia foi apenas mais um nesta rotina que já se tornou a cobertura do percurso dos palancas em vésperas de arranque do Mundial. Conferência de imprensa ao início da tarde, onde um jornalista espanhol protagonizou o momento do dia, ao inquirir Locó sobre o significado da expressão "palancas", que em Espanha é sinónimo de "alavanca", que constitui uma referência calão ao membro sexual masculino. Foi a gargalhada geral entre os presentes, embora a resposta do jogador angolano tivesse ficado aquém das expectativas.

Ao final do dia, um treino com 15 minutos para recolher imagens, onde é possível ver Eugénio munido dos seus potentes binóculos em busca de apontamentos de reportagem e Marcelo com um ar de "isto nunca mais acaba" . No terreno, Pedro Martins e Rui ensaiam um vivo ao melhor estilo da BBC-vida selvagem, enquanto eu, o André Alves e o nosso colega do Zimbabwe aguardamos o final da palestra do mister.

Finalizado este período, arrancamos rapidamente para o nosso amigo macedónio que nos permitiu trabalhar e jantar enquanto os portáteis transmitiam as imagens. Nessa altura fomos surpreendidos por um padre e as suas acólitas que nos viram e resolveram vir dar as boas-vindas à Alemanha. Mas a surpresa não ficou por aí: o dono do restaurante, "vítima" das visitas frequentes de vários jornalistas tugas acumula já no seu reportório linguístico várias expressões lusitanas do mais baixo nível que possam imaginar. E faz questão de as dizer bem alto enquanto nos oferece um xiripiti para terminar a refeição. Se os restantes clientes entendessem português, este era um restaurante condenado.

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Still Loving You?...

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Mais dois treinos, um deles fechado, mas tivemos que aguardar pelo final (uma seca de mais de 3 horas) para fazer uma foto específica. Almoçamos no centro (conseguimos finalmente encontrar um local que serve peixe) e ficamos a conhecer um empregado de mesa brasileiro que foi amigo de infância dum actual jogador do benfica(história para ler no Record).

Não vos vou maçar com os detalhes laborais, por isso salto imediatamente para a parte mais lúdica. Após enviarmos textos e fotos, demos um salto a Hanoover, que fica a cerca 40 Km, onde hoje se realizou um concerto patrocinado pela Fifa (Fifa Fan Fest) e onde resolvemos marcar presença, quanto mais não seja para sentir o pulso a como os alemães estão a aderir a estes eventos. Os cabeças de cartaz eram os velhinhos Scorpions, o expoente máximo do rock-azeiteiro. Apesar disso, milhares de pessoas compareceram, muitas da mesma faixa etária dos artistas. Um evento bem organizado, com liberdade para ver uma cota enrolar um berlaite à nossa frente (O Eugénio até lhe deu lumes), com casas de banho em quantidade para libertar a cerveja ingerida e com comida com fartura para os esfomeados como nós. Mas aquele som não se aguenta muito tempo. Ao fim de 10 minutos a ouvir aquelas galinhas com asma, vestidas de couro e cheias de rugas a descabelarem-se todas, resolvemos abandonar o local. Vamos embora que amanhã é dia de trabalho. Só tive que resolver um pequeno problema antes de deitar: a maldita luz que me entra pela janela às 06h30 da manhã. As cortinas são curtas, mas eu tenho aqui fita adesiva. Pronto, já está.

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Celle la vie

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Enfim, um dia normal. Apenas um treino matinal, com oportunidade para fazer bastantes fotos individuais dos jogadores, o que será útil em termos de arquivo para os dias seguintes. No final, abertura de "zona mista", uma área de passagem de jogadores onde é possível recolher declarações. Após o treino almoçamos no centro da cidade numa esplanada mas o final da refeição acabaria regado por um aguaceiro que nos obrigou a voltar rapidamente ao hotel. Estive a editar cerca de 1,5Gb de imagens se bem que com a habitual desorganização angolana, não consigo identificar todos os jogadores. De facto, não existe uma listagem oficial, uma revista actualizada com as caras e números dos jogadores da selecção. Muitas fotos acabem por ficar "na gaveta" porque não se conseguir identificar o jogador. Amanhã tentarei, junto dos nossos colegas angolanos, concluir a identificação de todas as fotos.

Aproveitei o final de tarde e, por volta das 19H00 dei uma volta no centro da cidade. Celle é pequena, mas bela, como podem comprovar nas imagens. Para além das praças majestosas com edifícios e igrejas cuidadosamente preservados, tem uma série de pequenos becos e vielas com tabernas, restaurantes e muito comércio tradicional. Tem apenas um pequeno grande problema: a partir desta hora transforma-se uma cidade deserta. Se esta localidade existisse em Portugal ou Espanha seria certamente um local com potencial de animação nocturna para concorrer com a Corunha, Porto ou outra grande metrópole. Mas aqui não. A malta deita-se cedo. E não me venham com a desculpa do clima. Isto é apenas uma questão cultural. Para além da terceira idade (os velhos abundam por aqui) que nos acompanhou no taberna típicamente alemã onde jantamos, não se viu mais ninguém a essa hora da noite. Não querem dar cá um salto para ver se animamos isto?...

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Palhaçada à Americana

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7 horas de sono, finalmente! Já me sinto outro. O dia começou tranquilo com uma deslocação a Celle, onde estaremos hospedados nos próximos dias e assim mais próximos do quartel-general da selecção angolana. Desta vez vamos ficar 5 noites no mesmo hotel, o que é inédito - nos anteriores (5 no total) nunca dormimos mais que 2 noites no mesmo sítio. Mais tarde tentarei mostrar-vos a beleza desta pequena localidade. Se houver tempo, claro...

Acompanhámos mais uma viagem do autocarro dos palancas até Hamburgo, onde se realizou o jogo-treino com os Estados Unidos. Mesmo sabendo que o jogo era à porta-fechada para imprensa e público, resolvemos ir. E ainda bem. O dispositivo de segurança que acompanha a selecção da terra do Tio Sam é uma absurda demostração das suas eternas fobias e do já habitual "Rambo-way-of-life". As imagens não fazem justiça à verdadeira palhaçada que foi a chegada do autocarro americano e do anel de segurança que o cercou durante o jogo. O dispositivo incluíu cerca de 40 motos, 6 carrinhas (uma com câmeras montadas no tejadilho), vários carros e um total de 150 agentes, incluindo snipers e forças especiais dignas da maior produção de hollywood. Hilariante! Num edifício em frente ao campo onde se realizava o jogo, um membro da "SWAT" identificou uma janela entreaberta . Toca a sacar dos binóculos para confirmar a inexistência de perigos. Sempre atentos e armados até aos dentes. Os jornalistas tiveram que trabalhar como se vê: apreciem o pobre Honorato, do Jornal de Angola. Tive que pedir a uns habitantes locais (boquiabertos perante este cenário) que me deixassem utilizar a sua varanda para tentar fazer uma imagem do relvado. O jogo acabou com mais uma derrota angolana e a saída do autocarro teve a mesma animação circense da chegada. Jantamos à pressa numa bomba de serviço na auto-estrada, donde arrancamos para um briefing nocturno no hotel dos palancas. Amanhã regressa a calma com mais treinos e conferências de imprensa. Até já...

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A Chegada do Circo

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Grande apoteose na chegada da selecção portuguesa à Alemanha. Foi, pelo menos, o que me constou, pois nessa altura estava enregelado à espera do final do treino dos angolanos, do qual apenas tivemos 15 minutos para recolher imagens: assim não se consegue produzir material decente para publicar. Não há qualquer oportunidade para fazer algo diferente com um jogador, o acesso é limitadíssimo e nem sequer consigo tirar partido de estar a trabalhar sem concorrência (o único fotógrafo que cá está é do Jornal de Angola). Tivemos uma conferência de imprensa às 13H00, seguida de um almoço com jornalistas brasileiros e mexicanos que também cá estão na ingrata missão de seguir a selecção angolana. Amanhã há mais um jogo de preparação, desta vez com os E.U.A., mas à porta fechada, inclusivé para a imprensa. A justificação para tal facto insólito são razões de segurança invocadas pela selecção americana. Ao que tudo indica o jogo até vai ser realizado numa base militar. É a fobia do Tio Sam no seu pior...

À noite jantamos com colegas que vieram com Scolari e a sua pandilha e definimos estratégias para a abordagem aos próximos dias de trabalho. O grosso da avalanche de jornalistas portugueses chega hoje e amanhã, pelo que a instalação da bandalheira está eminente.

Tal como acontece quase sempre no aniversário da minha mulher, também hoje estou a trabalhar, mas desta vez mais longe e ainda sem regresso marcado. Ela não torce por Portugal, mas torce sempre por mim. Por isso, e pela sua infinita paciência, aqui fica um grande beijo de parabéns.

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Na estrada com os Palancas Negras

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Podia chamar-lhe o dia mais longo...o que não seria mentira no que toca a kms percorridos. (Fizemos as contas por alto e nestes dias já fizemos mais de 2000Kms - uma média de 360 km por dia).
Ontem, depois de abandonar Sittard, tivemos que deslocar-nos até Utrecht, onde nos reservaram hotel para uma noite. Sem mapas da Holanda nem GPS, a solução foi abrir o portátil, ligar ao viamichelin.com e ir dando as coordenadas ao "piloto" de serviço - ao melhor estilo rally paper.

Fizemos o check-in no hotel NH (recomendo vivamente esta cadeia) às 04H00, dormimos depressa, um duche, um mega-pequeno-almoço e fizemos o check-out às 09H00 (fomos provavelmente os hóspedes mais rápidos e lucrativos do hotel - pagamos um dia, usufruimos 5 horas).

Uma centena e meia de kms depois estavamos em De Burg, uma pequena localidade rural de grande beleza que lamentamos não disfrutar com mais tempo. O autocarro dos angolanos saíu daqui em direcção a Celle, a 380km de distância. Acompanhámo-los durante todo o percurso. Esfomeados e cheios de sono, tivemos que aguardar até às 17H00 para voltar a comer algo. Foi numa estação de serviço onde os palancas resolveram parar para esticar as pernas e verter águas. Aí registei um momento que ilustra a boa disposição do gupo angolano- é uma daquelas fotos que não se pode publicar, mas que se tem a obrigação de partilhar.

Fotograficamente o dia foi pobre, mas quem dá o que tem, a mais não é obrigado. Enviamos o material para Lisboa durante o jantar num restaurante macedónio. Hoje conseguimos acabar mais cedo (00H20) e só temos 160 km a percorrer até ao nosso hotel em Belefield. Podia ser pior. Amanhã chega a nossa selecção e com ela a promessa de dias mais calmos. Mas de promessas está o jornalismo cheio...

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Manhã: Dortmund, Tarde: Sittard, Noite: Utrecht

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Moídos pelo cansaço, abandonamos o hotel na hora limite do check-out: 12H00. O City Hotel em Dortmund é pequeno, mas simpático. E tem a mais original tampa de sanita em que me sentei nos últimos dias. Antes de sair, aguardamos ainda pelos faxs enviados pela redacção com as páginas publicadas sobre Angola - nossas e dos restantes jornais desportivos. É um modo de termos algum feedback sobre como tem saído o nosso trabalho e espreitar o que fez a concorrência.

Mais 200km em direcção a Sittard. Mais obras. Mais camiões. Demoramos uma eternidade e chegamos ao destino completamente esfomeados, quase às 16H00. Lá esperam-nos outros jornalistas, portugueses e angolanos, igualmente em estado de sub-nutrição. Acabamos por aceitar um convite para um almoço improvisado numa casa particular nas imediações de Sittard. Não sabíamos muito bem o que esperar, mas a viagem valeu a pena. A comunidade angolana presenteou-nos com um repasto de lamber os dedos e chorar por mais. Embora temperada pela fome, foi provavelmente, a melhor refeição dos últimos tempos. Não fazia ideia que tinha tantas saudades de comer arroz...

Já nos estádio, e de pança cheia, assistimos à derrota dos palancas negras por 3-2. Nas bancadas, um verdadeiro espectáculo com os adeptos angolanos a "abafarem" os turcos com os frenéticos ritmos africanos e muita alegria. Já no relvado, a história foi diferente...

Enviamos o serviço para duas páginas no mesmo hotel de ontem. É 00H30 e colocam-se agora duas questões pertinentes: onde é que podemos jantar? onde é que fica o nosso hotel em Utrecht? Aliás, onde é que fica Utrecht?...

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Autoban

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A saga continua. Conseguimos descansar um pouco mais pela manhã, finalmente. Aliás, o dia nem começou mal, mas acabou pior. Fizemos-nos à estrada em direcção a Sittard, na Holanda onde a selecção angolana tinha agendado o treino de preparação para o jogo com a Turquia. Como o nosso Tom Tom só tem cobertura GPS no território alemão, o resto da navegação teve que ser feita à base de intuição. A distância total são cerca de 200Km mas se pensam que "ah e tal, nas auto-estradas alemãs, sem limite de velocidade, aquilo é sempre a abrir" desenganem-se. De facto, nestes 200 km, a cada 40-50 km é preciso sair da auto-estrada, meter por estradas nacionais saturadas de camiões e obras, voltar a entrar na autoban e ter muita paciência - dificilmente se consegue andar a mais de 80-90 km/h durante o dia. O trânsito é medonho.

Chegados a Sittard, depois de estacionar o carro e andar 30 metros a pé damos de caras com tugas: é o pessoal da RTP, que surpreendidos pelo mau tempo, se abasteciam de botas e camisolas polartec numa loja de desporto. Almoçamos juntos num restaurante na praça central. A localidade é pequena, mas tem um centro interessante com várias ruas pedonais cheias de pequeno comércio.

O treino acabaria por acontecer só às 20H00 e o mister angolano só disponibilizou 15 minutos para a recolha de imagens. Ainda assim, tivemos que aguardar quase até às 22H30 para tentar falar com alguns jogadores. Em vão: a maioria saiu enregelada e apressadamente para o autocarro e nem abriu a boca.
Dirigimo-nos para o hotel ontem estão alojados os colegas da RTP e imprensa angolana. Enquanto enviava-mos o serviço, fomos surpreendidos por uma amável oferta - 2 raparigas que acompanham os nossos colegas angolanos (ninguém ainda se atreveu a perguntar se são esposas, namoradas ou colegas de trabalho) prepararam-nos uma carne grelhada com massa e legumes que deu para matar a fome. Há que voltar a Dortmund - mais 200Km. Eu, que amaldicoei a estrada entre Náploes e Salerno, devia estar calado: esta é bem pior, e de noite nem se fala: mal iluminada, mas sinalizada e como se isso não bastasse, o nosso Tom Tom perdeu o sinal GPS e obrigou-nos a dar a mesma volta de 30Km duas vezes, ao fim das quais resolvemos desligá-lo e pegar no mapa. Chegamos ao hotel já depois das 03H00, exaustos. Amanhã temos que voltar a Sittard e ir dormir a Utretch. Foram mais de 1000Km de carro nos últimos dias, vamos para o 3º hotel, estivemos em 5 aeroportos, 3 países e ainda faltam 8 dias para o "nosso" Mundial.


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